Procissão das Almas: folclore na Semana Santa de Mariana
Publicado: JornalPonto Final, Friday, 09 de April de 2010 as 08:30h Faça seu comentário
Na madrugada do Sábado de Aleluia (3), os moradores de Mariana mantiveram a tradição e, vestidos de túnicas brancas e segurando velas, acompanharam a Procissão das Almas, uma das atrações da Semana Santa no município. Ao som de bumbos, matracas e correntes arrastadas pelo chão, o cortejo saiu do Cemitério das Mercês, passando pela Praça Gomes Freire e Rua Direita, até retornarem ao Cemitério.
Os seguidores da Procissão representam as almas castigadas, que saem às ruas pedindo misericórdia por não terem se confessado. O cortejo sai, tradicionalmente, nos primeiros cinco minutos do Sábado de Aleluia e os seguidores cantam um repertório composto por quatro músicas do século XVIII.
Durante a Procissão das Almas, são encenadas duas lendas do período colonial, a da Procissão do Miserere e a do Balaio de Penas. Segundo uma das coordenadoras do evento, Hebe Rola, a manifestação, apesar de ser realizada na Semana Santa, é uma representação tradicional e folclórica, não vinculada à Igreja. “Por fazer referência ao valor da confissão, as pessoas relacionam a procissão a um evento puramente religioso, mas ela é, antes de tudo, uma tradição folclórica”, enfatiza.
De acordo com Hebe, a encenação das lendas baseia-se em pesquisas sobre o folclore da cidade, realizadas por ela e pelo jornalista falecido, Waldemar de Moura Santos. “A Procissão faz parte da identidade de Mariana Manter esta tradição é uma das formas de estabelecer a singularidade do município”, ressalta Hebe. A Procissão das Almas é promovida pela Academia Infanto-Juvenil. de Letras, Ciências e Artes e pelo Movimento Renovador de Mariana.
Por anos a procissão arrasta uma verdadeira multidão ás ruas de Mariana. Aurimar Marcelo da Silva é um dos integrantes mais fiéis. Ele participa há quatro anos e considera que a data é momento único no calendário cultural da cidade. “Aguardo com ansiedade a chegada da Procissão das Almas. Durante a tradição são cantados alguns cânticos religiosos como, por exemplo, o Agnus Dei e ainda são rezadas orações na porta de cada Igreja, em respeito às pessoas que porventura ali estejam sepultadas. Como manifestação folclórica, vejo a Procissão das Almas como a representação de uma antiga lenda marianense, pois, segundo esta, os mortos saíam dos Cemitérios em procissão e iam até as Igrejas passando por todo Centro Histórico”, comentou Aurimar.
A Procissão de Miserere
Esta lenda tem como personagem principal a senhora Cocota de Todos os Santos, que viveu no século XVIII. Cocota tinha o hábito de observar o movimento da rua pela janela e, um dia, ela estranhou a passagem de um misterioso cortejo. Desta procissão, de repente, saiu uma pessoa e entregou à senhora uma vela. Foi recomendado que a vela fosse bem guardada, pois ela deveria devolvê–la no dia seguinte.
Assim que o dia amanheceu, a senhora levantou-se e quase desmaiou de susto ao ver que, no lugar da vela, havia dois ossos. Na noite seguinte, a mulher, trêmula de medo, devolveu os ossos e duas velas bentas à figura que lhe apareceu diante da janela, recebendo da mesma a seguinte recomendação: “Que isto te sirva de lição, pois a Procissão das Almas não é para ser vista pelos viventes”.
As pessoas interessadas em participar dessa importante tradição, procissão das almas, podem participar normalmente. O interessado deverá encaminhar após a procissão do enterro, sexta feira, e ir para a igreja de Nossa Senhora das Mercês, onde sairá à procissão das almas. Procurar as coordenadoras: Hebe Rolla (fone: 31-3557-1331) e Marlene.
Atenção: Os turistas também podem participar dessa tradicional procissão.
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